Monday, December 12, 2005

Carlos Cardoso: "Errei, ao acreditar no Dudú”, afirma Frangoulis

O antigo director da Policia de Investigação Criminal e investigador principal do “caso Cardoso” António Frangulís disse, há dias, a este jornal, que se há algo em que está arrependido depois de quase quatro anos que decorre o caso Carlos Cardoso é “ter acreditado que Dudú trazia toda a verdade”.
[12/11/2005]

“Acreditei e fui vítima numa altura de um grupo e noutra de outro grupo que até estava comigo”, mas mais tarde, “apercebí-me que quando ele veio ter comigo vinha com alguma lição bem estudada”, diz Frangulis numa entrevista concedida ao ZAMBEZE sobre os últimos desenvolvimentos do caso em que ele assumiu-se como protagonista principal, às vezes como “bom polícia” e às vezes como “mau”, dependendo dos vários interesses que estavam em jogo.

Segundo o agora deputado da Assembleia da República pela bancada da Frelimo, Anibalzinho sempre lhe deu a entender que havia gente inocente que estava presa na “BO” que não tinha nada a ver com o assassinato do jornalista e outros que estão envolvidos mas que estão livres e a passearem-se cá fora. E resume a história a isto: “toda a investigação que fiz e que consta nos autos prova o envolvimento de Anibalzinho no crime” e isso tranquiliza-o, sendo que o resto é conversa e é para desprezar.

“Não tenho absolutamente alguma resposta sobre às acusações feitas por Anibalzinho em audiência de julgamento. Deploro a atitude do tribunal ao abdicar do seu papel de educador e pedagógico ao permitir que o réu recorra à difamação e calúnia ao invés de esclarecer à matéria dos autos”, disse Frangoulís e advertiu que se a moda pegar, o crime organizado fortificar-se-á.

Frangulis lembra-se a propósito que uma das armas que os circuitos do crime organizado usou foi Dudú que tentou abaté-lo em pleno julgamento do caso Cardoso. “Uma delas por exemplo, é destruir a pessoa titular, uma retaliação, uma vingança e inclusive disse isto em tribunal aquando da última versão de Dúdu, que a mesma teve uma produção ao mais alto nível e eu dizia que aquilo era uma tentativa para apagar o meu nome mas só que no meio disto tudo, elevaram-me, deram–me dignidade sem darem conta e começaram a ficar preocupados com a própria dignidade que criaram”.

Hoje todo o mundo conhece Frangoulis, interna e externamente. “Estou completamente aberto, se há uma acusação contra mim, que siga os caminhos mais formais e não é chegar ali porque não é sede própria”.

- Negociações

António Frangoulís refutou ainda ter negociado com o réu o seu regresso da Suazilândia conforme afirmara em juízo.

“É mentira grosseira porque, entretanto, logo a seguir à sua detenção pela polícia suázi ele evocou ser de nacionalidade portuguesa. O então PR teve que falar diplomaticamente com o rei Mswati III. Lembro me que, por causa da nacionalidade portuguesa, tive que falar com o Cônsul português em Maputo”, recorda-se o polícia.

António Jorge Frangoulis acrescenta que, já não há nada de novo, pois “investiguei o crime até onde pude, não tive condições para investigar mais, mas os elementos que lá existem provam suficientemente que Anibalzinho está envolvido no crime”.

“Disse também em tribunal que quando estava a investigar acima dos irmãos Satar e Ramaya e, quando estava prestes para receber provas de Níni Satar, coincidentemente ou não, recebi ordens para cessar as funções”.

Frangoulís assegura que Anibalzinho nunca lhe abriu o jogo e acrescentou que “ estava com peso na consciência por que aqui dentro (BO) há indivíduos inocentes e existem indivíduos que estão lá fora que deveriam estar aqui na cadeia”.

E outra coisa que disse foi que “até a minha mãe sempre disse que enquanto tú por exemplo, fazias teu negócios de carros não tinhas problemas, mas negócio de sangue nem Deus perdoa”, mas, “teoricamente que há outras pessoas envolvidas no crime, isso ele sempre disse”.

Sobre as cassetes que Anibalzinho gravou e afirmou em tribunal que uma delas apresentava cortes, Frangoulis questionou onde é que o réu as viu se tais cassetes encontram-se conservadas junto aos autos.

Segundo aquele investigador, a instauração do “caso Cardoso” mexeu com o crime organizado e contribuiu para a moralização da sociedade porque “a partir de uma determinada altura deixou de pairar na consciência das pessoas que tudo é podre”.
O nosso interlocutor admitiu a possibilidade de Anibalzinho estar a ser manipulado alegadamente para atingir fins obscuros ao processo, ora em julgamento.

“Veja nas entrelinhas o que ele diz , elogiando certas pessoas que até todo o mundo suspeita que estejam implicadas neste processo e vai de desconexão em desconexão”.
No termino da conversa, António Frangoulis disse que se há um passo de que possa se arrepender hoje, foi ter acreditado que Dúdu trazia a verdade.

“Acreditei e fui vítima numa determinada altura de um grupo e noutra de outro grupo que até estava comigo, mas mais tarde comecei a ver que quando Dúdu veio ter comigo predisposto vinha com alguma lição estudada”.

“Na minha agenda Dúdu deveria ser preso. Depois deveria ser ouvido na qualidade de testemunha, mas tinha que prestar juramento perante um Ché de forma a não mentir. Quando começa a dar várias versões sobre o assunto vi que errei, mas mesmo assim, é um objecto de estudo”.

Lamenta no entanto, o exemplo que aconteceu com ele – “ser posto compulsa e ilegalmente na reserva como consequência da minha ousadia”.

Frangolius lamenta o que aconteceu e resume nos seguintes termos: “a polícia não ganhou. O Ministério do Interior como instituição não ganhou. Moçambique como Estado, a Administração da Justiça não ganharam porque aquilo foi misturado com manipulações de que fui promovido, quando não.

Ilegalmente porque não tinha 30 anos de serviço, passagem para reserva unilateralmente contra vontade de Estado é aos 35 anos de idade. Acontece porém, que fui à reserva quando nem 30 anos tenho na instituição. Ora tudo isso que aconteceu é mau porque os outros que não têm meios de sobrevivência não podem desafiar o crime organizado a saber que amanhã vão ficar na rua. A saber que amanhã não vão ter dinheiro para comprar pão para os filhos e a saber ainda que, ficarão sem protecção”.

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