Thursday, June 18, 2009

Martin de Sousa Mondlane

Contornos de uma conspiração teorizada

Por MARTIN DE SOUSA MONDLANE

Detesto violência. Abomino quem faz da violência um modo de vida. Abomino mais ainda quem use a violência para se projectar, aparecer, ou fazer passar a sua imagem/ideais. O assunto político de momento é o acto vil consubstanciado numa pretensa tentativa de assassinato protagonizada, alegadamente, por membros da Renamo a mando, ao que se diz, de Afonso Dhlakama.
Maputo, Sexta-Feira, 19 de Junho de 2009:: Notícias
Ando com a cabeça às voltas para perceber como se pode falhar na intenção de matar alguém, nas circunstâncias em que as coisas são nos dadas a conhecer.

Continuo a pensar que o fracasso de uma tentativa de assassinato, principalmente quando o tentador é um dos principais adversários, representa sempre um capital político forte. Atrai simpatias, solidariedade e pena.

A génese do MDM e da popularidade do seu líder está nesses sentimentos. Ao ser excluído da corrida eleitoral, Daviz Simango angariou simpatias e solidariedade das gentes da cidade da Beira. Daviz Simango foi acolhido pelas bases da Renamo e por muitos sectores beirenses quando foi desamparado por Afonso Dhlakama e seus sequazes.

É um facto que para os desafios que se avizinham, o expediente de coitadinho traído pela cúpula da Renamo não chega para atrair simpatias, solidariedade e apoios. É necessário um forte trabalho ideológico. Quando este se mostra insuficiente há que recorrer a outros. E porquê não um atentado?

Um atentado reagrupa os grupos de solidariedade. Um atentado choca. Um atentado mobiliza. As primeiras pessoas que neste contexto se aperceberam disso foram os próprios membros do MDM. Foi o próprio Daviz. Trato-o assim porque é meu amigo no Hi5. Foi através do Hi5 que ele me anunciou o sucedido, no mesmo dia em que os factos ocorreram. Foi através do Hi5 que o Daviz me anunciou o “Atentado de Golpe” e me anunciou que a “democracia em Moçambique está cada vez mais a deteriorar-se, só você pode salvar Moçambique.”

É evidente como eu faria para salvar Moçambique.

Tenho discutido este assunto com vários amigos e alguns são unânimes em dizer que de todo este cenário, só uma parte saiu a ganhar. Não me parece difícil de adivinhar qual.

Portanto, mais do que lamentar o sucedido, o MDM tratou de capitalizar o máximo possível o sucedido em Nacala. Tratou de mobilizar as massas para a sua causa.

Estarei a tentar dizer que o atentado não aconteceu? Não, de todo não. Estou apenas a sugerir que olhemos para este acontecimento de outros ângulos. Estou a seguir um trilho deixado pelos acontecimentos anteriores ao atentado, os dados obtidos após o atentado e o efeito balão de oxigénio que este representa.

Estou a tentar dizer que é fácil “entregar” o atentado ao Dhlakama e seus sequazes tendo em conta que, “visivelmente”, foram homens “identificados” como da Renamo que perpetraram o atentado; mas não seria idiotice pensar que, apesar daqueles actores, o atentado pode ter sido cozinhado noutras bandas e por outras cabeças que não de Dhlakama e seus sequazes, principalmente quando analisamos o aproveitamento político que o MDM e seu líder deram ao facto.

Mas seja como for, seja quem for que preparou e executou é de todo condenável. Repugna-me tanto a ideia de se “forjar” um atentado como instrumento mobilizador com a ideia de, tendo sido a Renamo, pugnar pela eliminação física ou, em última análise, pela intimidação dos concorrentes ao invés de eliminá-los e ou amedrontá-los com planos e ideias convincentes que demonstrem uma Renamo preocupada com a Nação.

Em comentário a carta à moda antiga que o Mapengo escreveu a Ivone Soares acerca da “Teoria de Culpabilizar os Outros”, alguém comentou que a Renamo ainda não se constituiu como alternativa para a governação deste país. Esta constatação resulta do vazio de ideias que caracteriza a Renamo.

Mas, para além do vazio ideológico, as conhecidas zaragatas internas, desorganização e falta de democracia interna têm nos sido servidos em doses cavalares. É interessante pensar como um partido em si desorganizado pode pensar, planificar e tentar executar a ideia de eliminar o Daviz. Isto a suceder seria a primeira vez que a Renamo nos demonstra alguma capacidade de pensar, planificar e executar. Seria uma novidade como é novidade entre nós eliminar fisicamente adversários políticos nos dias que correm.

Política não é campo privilegiado da santidade. Antes pelo contrário.

Diz o Mapengo que “alguns defendem que a política tem que ser limpa (?!).” Assim (contextualizando no caso em apreço), “se os outros, neste caso a Renamo, aparecem a fazer jogo sujo tentando eliminar fisicamente um adversário político, é lógico que perde a cotação por parte dos que têm essa ilusão” de que a política tem que ser limpa.

Fonte: Notícias

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