Saturday, August 28, 2010

A China como segunda maior economia depois dos EUA

Por Magid Osman

Eu queria fazer esta análise, fundamentalmente, para ver quais são as implicações que esta economia cria num país como Moçambique e também para os outros países africanos. Habitualmente, quando nós falamos de economia do país, a grandeza que se usa é o Produto Interno Bruto (PIB). Esta semana foi anunciado que o PIB da China superou o do Japão. Mas há uma outra forma de medir o PIB, que é tendo em conta os preços internos relativos. Portanto, os produtos e serviços oferecidos pela China são mais baratos que os do Japão, portanto, 1 000 USD na China compram muito mais do que 1 000 USD no Japão. Cria-se um outro critério que causa esta convenção que se chama paridade do poder de compra (PPC) que utilizamos há mais de dez anos, que demonstra que a China já tinha o seu PIB maior que o do Japão. Agora, em termos normais, a China ultrapassou o Japão.
Só para dar uma ideia, no critério anterior, que é o que nós estamos a utilizar agora, em que a China ultrapassou o Japão, os EUA estão em primeiro e a China em segundo, o Japão em terceiro, a Alemanha em quarto e a Índia vem em décimo lugar. Se utilizarmos o critério PPC, os EUA continuam em primeiro a China em segundo e a Índia já vem no terceiro, porque na Índia os produtos ainda são mais baratos que na China. Portanto, a diferença que há entre um critério e outro é que, o primeiro critério é convencional e o PIB chinês é seis vezes inferior ao PIB dos EUA. No critério PPC o PIB chinês é mais elevado em 50% do que o PIB americano.
É óbvio que nisso as taxas de câmbio também têm uma contribuição muito importante neste processo e aqui vale apenas também analisar isto. A taxa de câmbio, por exemplo, da China, se for valorizada a sua moeda o PIB chinês, quando medido em dólares, cresce tremendamente e essa é a posição que está a ser feita sobre a China para que este país valorize a sua moeda de modo a se tornar menos competitivo das suas exportações e mais competitivo das implicações para equilibrar a diferença existente entre as exportações e importações. Há uma certa analogia para esta situação que a China vive hoje e a situação que o Japão vivia em 1978.

Analogia da situação da china com a do Japão em 1968
Nessa altura em que se dizia que o Japão queria ultrapassar a economia dos EUA em que inclusive a primeira ministra francesa insurgia-se contra os japoneses, porque dizia que os japoneses trabalhavam como formigas o que iria inundar a Europa com os seus produtos e ainda, que era necessário serem tomadas algumas medidas de precaução para dificultar a entrada destes produtos na Europa. O que aconteceu na altura foi que, sobretudo, os EUA fizeram uma pressão muito grande sobre o Japão e a taxa de câmbio do dólar para o Yene que é a moeda japonesa, era de 1 dólar a 240 yenes e sucessivamente o yene foi se valorizando até chegar a 85 yenes hoje; o que tornou as exportações japonesas menos competitivas.
Agora o Japão deixou de ter os ritmos de crescimento fabulosos que tinha; mais ou menos estagnou-se em termos do crescimento económico. Hoje, o PIB per capita americano é maior que o PIB per capita japonês. Portanto, há esta analogia entre o Japão e a China, mas também há grandes diferenças entre estes dois países.
Enquanto na China a população é dez vezes mais que a população japonesa, o consumo ainda está reprimido. Portanto, o PIB per capita está por volta de 3 000 USD a 3 700 USD para o Japão. Eu diria que para o caso particular da China, não só há muita mão-de-obra, assim como ainda há por integrar, como ainda há muito consumo por expandir, o que significa que a China tem um potencial de crescimento muito grande;
Além disso, o Japão tinha uma política externa subalterna aos EUA e a China tem uma política externa autónoma.
O Japão tinha preocupação de representar a força económica no campo internacional através de uma presença internacional muito mais forte e a China não tem essas preocupações, pelo contrário, a China projecta a sua força económica no campo internacional.

Mudanças geoestratégicas no país
Se analisarmos os negócios que a China tem vindo a fazer em África, verificaremos que tem sempre uma componente de matérias-primas. Portanto, a China sabe que é importante assegurar o fornecimento actual, e o futuro de matérias-primas estratégicas. É só para dar uma ideia do que pode acontecer se a China continuar a crescer ao ritmo actual, e se a Índia também acompanhar a China no seu crescimento. Há estimativas da Agência Internacional de Energia que dizem que se o consumo do petróleo dos países de renda baixa e de renda média se aproximar ao consumo médio mundial, vai ser necessário produzir-se mais 35 milhões de barris por dia. O consumo actual anda à volta de 85 a 90 milhões de barris por dia.
A própria Agência Internacional de Energia diz que em 2015 é capaz de haver um negócio iniciado com 5 milhões de barris por dia no caso do petróleo, isto é, se os consumos continuarem a subir como tem estado a acontecer. E para satisfazer as necessidades mundiais, em 2030 será necessário dispor de mais de 66 biliões de reservas adicionais de petróleo. Portanto, significa que o petróleo é um exemplo muito importante que explica como a China assegura o fornecimento de energia. O outro exemplo é o do carvão! A China é o maior produtor e o maior consumidor de carvão e deixou de exportar este minério e passou a importá-lo. E quando a China começa a importar, não se trata de importações pequenas, faz importações à ordem de 100 milhões de toneladas de carvão. Recentemente foi assinado um acordo, caso particular de Moçambique, com a Riversdale. A Riversdale foi buscar como parceira uma empresa chinesa que produz 40 milhões de toneladas de aço e vai comprar 40% da produção derivada do carvão do país. Deste modo, a China, indirectamente, passará a ser um parceiro económico importante e para o país vai disponibilizar cerca de 800 milhões de dólares para viabilizar projectos.

E o que está a acontecer no nosso caso, nesta situação das mudanças geoestratégicas?

A Índia, e sobretudo a China, no caso da localização geográfica, acabarão por ser directa ou, indirectamente, os grandes parceiros de Moçambique. E quando fazem negócios com Moçambique, significa que são relações construídas que vão se manter ao longo de cinquenta a cem anos e provavelmente irá se verificar uma imigração de indianos e chineses para o país. Isto significa que haverá uma mistura de culturas, o que torna uma relação muito mais forte. O interessante é ver que, enquanto estes dois países estão disponíveis a financiar grandes projectos em Moçambique, os mesmos não trazem o tipo de apoio que trazem os países ocidentais, e é já uma ironia.
Os países ocidentais estão em crise, têm dificuldades de crescimento e a China e a Índia continuam a crescer, porém, quem assegura a estabilidade económica e política em Moçambique é a ajuda ocidental. Os países ocidentais estão a ajudar países como Moçambique e outros países onde eles dão ajuda para que esses países como a Chian e a Índia que são os seus concorrentes, façam negócios com Moçambique.


Fonte: O País - 27.08.2010

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