Por Carlos Quembo*
Explicando as manifestaçoes :
Hipotese 1 (a série continua)
A teoria de frustraçao relativa avançada por Ted Gurr pode ajudar a compreender a mobilização social para a participação nestas manifestações que se reeditam em Moçambique (depois da de 5 de Fevereiro de 2008), concretamente na cidade de Maputo e Matola.
Segundo esta teoria, as pessoas não se revoltam porque são pobres, mas sim porque numa situação de comparação com outras classes sociais ou dentro da mesma classe, elas se julgam numa situação ou posição de injustiçados e que merecem mais do que aquilo que lhes é disponibilizado.
Ha tres aspectos nesta teoria :
1) Sentimento de descontentamento, insatisfação e frustração,
2) Que predispõe os individuos à revolta,
3) E a acção de revolta para alcançar à aquilo que se é merecido e não aquilo que se tem.
Vejamos para a realidade Moçambicana. Este país sempre foi pobre e provavelmente continuara pobre, pelo menos enquanto as coisas continuarem neste rítmo, não obstante o discurso secular de combate a pobreza absoluta, que data desde as zonas libertadas. Recordem-se do famoso Plano Prospectivo Indicativo, do PRE e do PREs, do PARPA 1 e 2.
Moçambique já esteve entre os « melhores » países mais pobres do mundo. Portanto, revoltas similares nao aconteceram.
Provavelmente isso se deve a não existencia desse sentimento de frustração relativa. O povo estava consciente das dificuldades institucionais que se enfrentavam e a pobreza se repercurtia em todos os sectores da sociedade e em todos os segmentos desta mesma sociedade. O apertar cinto se fazia sentir desde topo até a base. Isso não significa que não havia corruptos. Mas sim, que a consciencia colectiva sobre a existencia de corrupção deliberada dos dirigentes e a falta de vontade de zelar pelo bem estar do povo, ainda não partilhada de tal forma que mobilizasse o povo para uma revolta.
Hoje, vivemos uma situaçao diferente. Sabemos todos que o nosso país ainda é pobre, não obstante as estatisticas disfarçadas que escamoteiam essa verdade face à uma comunidade internacional deliberadamente cega.
Portanto, diferentemente do que se passou e se passava anteriormente e principalmente nos anos 1980 (para os da minha geração, o ano de 1983 é marcante), hoje o povo tem a sensação de que melhor podia, pode e deve ser feito para minimizar a penuria com a qual o povo se debate no seu quotidiano. Abundam reportagens que mostram (com A+B) que a elite moçambicana, grosso modo, detentora do poder politico, e que a traves do clientelismo, nepotismo, prebendalismo, o usam como um trampolim para acumulaçao de riqueza, nada ou pouco faz para o bem estar do povo, donde imana o poder. E ainda usa este mesmo povo para legitimar o seu estatuto de governante.
Nao precisa ser magico, PhD, consultor, medico tradicional, curandeiro, sociologo ou antropologo, cientista politico ou historiador, viver perto ou ao lado da presidencia da republica, ser cunhado ou primo de tal ou tal fulano, para se saber que a nomenclantura politica, é a nomenclatura economica ou que estas duas, caminham de braços crizados e usam o povo como cavalo de troia. Nao difere muito da situaçao colonial (ja houve quem perguntara : quando é que a independencia acabará ). O colonalismo se produzia e se reproduzia a custa da exploração gratuita da mão de obra e da força de trabalho da população africana, a mesma que depois se tornou o povo moçambicano.
Este sentimento, criou a consciencia colectiva de frustração, de revolta, de descontentamento. Face a essa situação, como sugere Irish, o povo tem no mínimo tres alternativas:
1) Exit, que significa desistir de lutar para mudar a situação que origina a frustração, pode significar também encontrar outras alternativas, como por exemplo sair do pais,
2) Loyalty, que significa normalizar o anormal, conformar-se e não acreditar na possibilidade de mudança e colaborar com o sistema, com o objectivo de um dia fazer parte dos corruptos. É grosso modo o que tem acontecido frequentemente
hoje, sobretudo com os jovens moçambicanos. Os supostamente parte da « geraçao da viragem »,
3) Voice, esta última significa de forma extensiva, protexto. É o que está acontecer neste momento nas cidades de Maputo e Matola.
Estando fisicamente distante, não posso fazer mais nada, se não contribuir desse jeito para explicar a situação que hoje se vive nesta patria amada. Enquanto os dirigentes nao tiverem em conta estes aspectos, nunca encontrarão uma solução para este problema. Nao é matando, disparando, impidindo as manifestações que o povo vai parar. Não nos se esqueçamos, a morte é inevitavel a oser mortal. Mesmo os que estão a matar hoje, morrerão amanhã. Os que morreram hoje, so foram os primeiros em relação aos que os mataram, mas não são os unicos. O povo sabe disso. No meio destes manifestantes (dos quais eu faço parte) a quem prefere até morrer do que perder a vida (O descontentamento chega a tal ponto que se torna preferível morrer do que continuar a viver).
* Docente na UEM, mestrado em Ciencia Plitica Texto publicado no blog (http://www.oficinadesociologia/ ).
Fonte: SAVANA/Diário de um sociólogo